Neve, Cinzas, Flores de Cerejeira


Eliana Sousa Santos e Tiago Silva Nunes 


bolsa de curta duração - 2019

 

Este ano a Fundação atribuiu 13 bolsas de estudo de curta duração a projectos na sua grande maioria na área artística, como é o caso deste que agora apresentamos.  Estes projectos foram essencialmente para visitas de estudo a países como Japão, China, Vietname, Índia e Portugal (no último caso apenas para investigadores orientais). Esperemos que estes projetos possam a vir a ser apresentados alguns deles no Museu, quer sob a forma de exposições, conferências, ou workshops



Com este projecto pretendemos traçar uma história cultural do Japão fazendo um percurso na paisagem desse arquipélago. Organizámos a viagem em cinco partes, que representam diferentes momentos históricos e paisagens marcadas por obras de arquitectura, literárias e cinematográficas definidoras da identidade cultural Japonesa.
O título, Neve, Cinzas e Flores de Cerejeira, evoca Sasameyuki [neve fina] de Jun’Ichiro Tanizaki (1948), traduzido em português como As Irmãs Makioka, as cinzas que caíram sobre Hiroshima em Agosto de 1945, e a queda das flores de cerejeira no final da Primavera — um ritual fundador do sistema estético e artístico Japonês.
A metodologia deste projecto consiste em seguir obras literárias e explorar os temas, espaços e paisagens que constituem um mapa cultural desse território. 



PARTE I . VISÕES DO FUTURO: TÓQUIO (1964-2019)

Na primeira parte explorámos Tóquio, uma área metropolitana com 14 milhões de habitantes. Neste capítulo seguimos os passos de Toru Watanabe em Norwegian Wood (1987) de Haruki Murakami, um estudante universitário em 1968, pelas ruas de Shinjuku — um pólo criativo e contra-cultural marcado pelos protestos de oposição ao Tratado de Segurança e Cooperação com os EUA. Passámos pelo Yoyogi National Gymnasium (1964) de Kenzo Tange, um vestígio do optimismo dos Jogos Olímpicos de 1964, um período em que um grupo de arquitectos — Metabolistas — geraram inúmeras visões sobre a metrópole e o habitar do futuro. O colapso da economia na passagem para os anos 1990 trouxe a visão distópica de Akira (1982-91) de Katsuhiro Otomo, no entanto Tóquio permanece o símbolo global de um futuro tecnológico que oscila entre o sonho e a catástrofe. 
Estádio Olímpico 2020 na metrópole sob o véu cinzento do céu de Tóquio. @Tiago Silva Nunes


PARTE II . TRADIÇÃO E MODERNIDADE: BAÍA DE SAGAMI (1853-1952)


Na segunda parte, seguimos o arco da baía de Sagami até ao final da península de Izu. Esta paisagem está povoada pelo imaginário de Yasujiro Ozu, que escreveu e encenou os seus filmes da década de 1950 em Kita-Kamakura e Chigasaki, num período de transição após a Ocupação Americana onde há uma luta entre os valores tradicionais e as transformações introduzidas pela modernidade. Seguimos até Odawara onde visitámos o Enoura Observatory (2017) estabelecido por Hiroshi Sugimoto, um local para a observação de solstícios e para a preservação das artes tradicionais do Japão. Visitámos Hakone, uma das paragens da Tokaido representada na série de gravuras de Hiroshige, e as quedas de água de Hokusai. Terminámos em Shimoda, o primeiro porto comercial estabelecido depois da abertura do Japão ao exterior em 1854. 
Vestígios da antiga estrada Tokaido, próximo da paragem de Hakone. @Tiago Silva Nunes


PARTE III . MITOS FUNDADORES: DE ISE A QUIOTO (710-1185)


Na terceira parte viajámos entre Ise, Nara e Quioto. Em Ise, visitámos o importante santuário shinto, uma estrutura sagrada fundamental para a definição mitológica do Japão. Seguimos até à floresta de Kasuga Yama que permaneceu inacessível desde o tempo da capital de Nara, no século IX, até ao fim da II Guerra Mundial. Em Quioto, a capital durante o período Heian, explorámos os vestígios da porta Rashomon e as observações de Sei Shonagon em Makura no Soshi — um diário da vida na corte imperial do século X. Visitámos a villa Katsura, a origem simbólica da arquitectura Japonesa e um lugar que evoca o imaginário narrativo de Ugetsu (1953) de Kenji Mizoguchi. 
Villa Imperial Katsura, Quioto. @Tiago Silva Nunes



PARTE IV . GUERRA E PROGRESSO: O MAR INTERIOR DE SETO (1935-1970)


Na quarta parte viajámos pelo Mar Interior de Seto, entre Osaka e Hiroshima. Em Ashiya encontrámos a paisagem de As Irmãs Makioka de Tanizaki. Em Hiroshima pudemos reflectir sobre a meditação de Alain Resnais sobre a memória e relembrar os testes nucleares de Castle Bravo no Bikini Atoll. Passámos pela ilha de Teshima onde visitámos a obra Matrix (2010) de Rei Naito. Para concluir, percorremos os vestígios da Exposição Universal Osaka 70, o culminar da euforia e optimismo tecnológicos. 
Umeda Sky Building (Hiroshi Hara) Osaka. @Tiago Silva Nunes


PARTE V . PRÉ-HISTÓRIA PÓS-CATÁSTROFE: TOHOKU (2011-FUTURO)


Na última parte, seguimos o percurso de Matsuo Basho nas suas viagens pelo norte do Japão, entre Edo, Hiraizumi e Kanazawa. Uma viagem ao Japão ‘primitivo’ e ‘natural’ sob a influência de Kentoshi (2014) — The Last Children of Tokyo — de Yoko Tawada, uma visão de um futuro em que as alterações climáticas alteraram radicalmente a paisagem do arquipélago. Passámos pelos Alpes Japoneses, uma paisagem protegida e de acesso limitado onde se tenta manter a modernidade à distância. Terminámos em Aomori, onde visitámos o sítio arqueológico Sannai Maruyama, onde se pode ver a reconstrução de uma vila do período Jomon, com vestígios de objectos produzidos entre 3900-2200 a.c., a imagem do passado remoto reconstruída no século XXI. 
Lago no santuário shinto de Myojin em Kamikochi, Alpes Japoneses. @Tiago Silva Nunes

Este trabalho resultará numa publicação de ensaios no jornal Público a publicar em breve à semelhança do que já tinham feito  para o Sudoeste dos EUA(https://www.publico.pt/serie-branco-ate-branco )e para a Europa  Alpina( https://www.publico.pt/serie-montanhas-magicas) . Esperemos ainda que este trabalho possa vir a resultar numa exposição e/ou numa conferência sobre esta experiência.

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