Histórias de uma bolseira num ano lectivo atípico - MA THI HA
Ma Thi Ha, veio do Vietname, em Outubro de 2019 para frequentar uma curso de Língua e Cultura Portuguesas, na Universidade de Coimbra, conta-nos agora a sua experiência. Apesar de ter sido um ano atípico pelas circunstâncias que todos vivemos, a bolseira ajuda-nos a olhar a situação de um ponto de vista positivo.
Estas bolsas de estudo significam tanto na vida de cada um dos seus beneficiários, mas significam também, que ao longo dos anos a Fundação Oriente, vai contribuindo aos poucos, sem se dar por isso, para que a nossa língua tenha maior expressão em vários países do Oriente. A propósito disto, recordo uma história, no início do ano lectivo, de outra bolseira, proveniente da Tailândia, quando aqui chegou e teve a primeira reunião na Fundação, contava-nos que a sua professora de Língua Portuguesa, na Universidade de Chulalongkorn, tinha sido nossa bolseira há alguns anos. Assim se constrói e se desenvolve uma língua, aos poucos, com alguma persistência e ao fim de alguns anos, vamos deixando algumas sementes espalhadas, que podem contribuir para que os falantes da nosso língua sejam mais e que contribuam para que outros possam vir a desenvolver o gosto pelo nosso país, pela nossa cultura e sobretudo pela nossa língua. O texto abaixo é da responsabilidade da bolseira, apenas com algumas correcções.
Hoje é o meu último dia em Coimbra. Estou a arrumar meus pertences para amanhã mudar para outro lugar e continuar um novo caminho; são 1.40 da manhã agora, é difícil dormir quando todas as minhas lembranças deste lugar aparecem na minha cabeça.
Coimbra - Outubro de 2019 |
Antes de vir para Portugal, vivia em Hanói, que ao contrário de Coimbra, é uma cidade que nunca dorme e está sempre movimentada, com uma população de aproximadamente 10 milhões de habitantes. Por esta razão, para mim, o ano lectivo passado foi muito pacífico. Todos os dias desfrutava do ar fresco, ao caminhar para a faculdade com os meus colegas, tive aulas com professores adoráveis, como a professora Tânia, a professora Adelaide e o professor Rui, talvez estes tenham sido os meus três professores preferidos. O que mais me impressionou foi o amor pelo trabalho, o entusiasmo e o amor pela Língua Portuguesa que os professores dedicam aos estudantes.
Visita de estudo com a professora Adelaide |
Aula com o professor Rui |
Graças a este curso, fiz muitos amigos de origens diversas e compreendi melhor as respectivas culturas e curiosidades. Destes, só posso dizer bem, sempre muito queridos comigo, sempre me ajudaram e cooperaram no processo da minha aprendizagem. Após o curso, também tivemos alguns encontros muito divertidos, é claro que seguimos as recomendações do DGS para a prevenção do Covid-19, reunimo-nos junto às margens do rio Mondego para conversar sobre as experiências de confinamento, jogar e ainda compartilhar comidas de cada um dos nossos países. De outra vez, fomos a casa de uma amiga, onde fizemos um hotpot e comemos mochi. Nunca esquecerei esses momentos e os meus amigos maravilhosos.
Hot Pot com amigos em Coimbra |
Encontro no Parque Verde - Coimbra quando as aulas terminaram |
Senti-me feliz por poder ter tido a oportunidade de estudar na universidade mais antiga de Portugal, com a mais vasta experiência de ensino no país. A universidade é muito bonita, grande, localiza-se na parte alta da cidade, podemos subir por um elevador ou de autocarro, mas preferia ir para a faculdade a pé, faz bem à saúde e é muito mais ecológico. Além disso, o processo de subir e seguir as Escadas Monumentais fazia-me sentir a universidade, como se fosse um pico glorioso, que os alunos precisam de subir para se sentirem a superar dificuldades e desafios.
Escadas Monumentais da Universidade de Coimbra |
Gosto muito de estar em Portugal, a atmosfera é muito fresca, o cenário é bonito e o povo é simpático. Especialmente em Coimbra, a cidade dos estudantes, recebe todos os anos muitos estudantes; não sou apenas fascinada pelo ambiente de estudo aqui, mas também pelos festivais para estudantes como a Praxe, a Festa das Latas ou a Queima das Fitas.
Festa das Latas |
Durante o primeiro semestre, tive a oportunidade de visitar vários locais culturais e históricos do município de Coimbra, tais como a Igreja de Santa Cruz, Sé Velha, Sé Nova, Museu Machado de Castro, Museu Académico, Paço da Universidade e Biblioteca Geral ... Também queria visitar outros lugares como o Museu da Ciência e a Biblioteca Joanina, mas com o estado de emergência, devido à pandemia, fiquei em casa, desde Março para evitar ser infectada.
Na verdade, a vida em quarentena em casa não foi tão chata quanto eu pensava. Durante esse período, aprendi a cozinhar melhor e diferente, cuidei melhor de mim mesma, dormi melhor, não bebi álcool, liguei mais para a minha família, foquei-me mais no estudo e desenvolvi mais competências a nível informático. Embora o volume de trabalhos de casa tenha aumentado muito em comparação com o semestre anterior, também foi uma motivação para aprender mais. Embora tenhamos estudado on-line, conversávamos muito e a turma esteve sempre animada com discussões interessantes. Além disso, também adquiri práticas de trabalho em grupo através da internet. Essas foram as experiências inesquecíveis desta temporada.
Aulas on-line com o professor Rui |
O meu bilhete de avião foi entretanto cancelado, talvez durante o Verão
não volte ao Vietname, porque não há voos; se houver, o
bilhete de avião é muito dispendioso, além disso o risco de apanhar o covid-19 no voo
é muito alto. Os meus pais aconselharam-me
a ficar aqui por um tempo até que a situação melhore. Felizmente para mim, fui
aceite recentemente no Mestrado em Português - Língua Segunda/Língua
Estrangeira da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, concorri a uma bolsa do Instituto Camões e fui seleccionada. Assim vou ficar em Portugal para continuar os meus estudos.
O Meu novo lar: Cidade do Porto
7 de Julho de 2020
No dia 30 de Junho mudei-me
para o Porto, uma das minhas cidades favoritas em Portugal. Sinto que tenho
tido muita sorte ultimamente. os meus senhorios são provavelmente os anfitriões
mais adoráveis que conheci, considero-os como se fossem os meus segundos pais e
eles tratam e cuidam de mim como uma filha. Também arranjei um emprego, num café vietnamita, a
tempo parcial que é suficiente para suportar todas as despesas durante o Verão. Conheci boas colegas, e apesar de nos conhecermos há pouco tempo, estão sempre dispostas a ajudar-me.
Sinto-me grata à Fundação do Oriente pela bolsa de estudos concedida que me deu a chance de vir
a Portugal, não só para melhorar o meu português, mas também pela oportunidade de
conhecer a cultura portuguesa e seu povo simpático num país não poderia ser
mais maravilhoso. Vou tentar o meu melhor para concluir bem o meu próximo
curso, para que um dia consiga fazer aquele que é o meu sonho: vir a ensinar a Língua Portuguesa no Vietname.
Porto, 12 de Julho de 2020
Ma Thi Ha
Porto, 12 de Julho de 2020
Ma Thi Ha
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